Politizando que se aprende...

Politizando que se aprende...



Por Marcos Monteiro

Aproveitando o clima de pós-carnaval, que tal falarmos um pouco de política? Mas fica tranquilx, vamos pegar leve. Afinal, o ano começou agora e todo mundo aqui quer aprender. Para início de conversa, precisamos entender que a democracia no Brasil ainda está em um estágio embrionário e que nem todas as pessoas têm o interesse e facilidade em aprender/compreender o cenário político, as leis nacionais e acordos internacionais.

Em 2015, para tornar o saber da política mais democrático, nasceu o portal de educação política “Politize”. É importante saber que o site não possui vínculo partidário e que a sua função é ajudar a população na compreensão do sistema legislativo, por exemplo.  Politize é o maior portal de educação política do Brasil e tem mais de 1 milhão de acessos por mês.

E para continuar crescendo, o portal em 2018 abriu inscrições para embaixadores levarem a política de uma forma menos burocrática principalmente para a periferia. Os assuntos são abordados para descomplicar os assuntos políticos e quebrar estigmas como: “Política não é pra mim”, “Política é chato”, etc.
Nós, da OIJ, conversamos com o embaixador Guilherme Alves, que conta a sua experiência e jornada no Politize. Confira abaixo esse ping-pong democrático que rolou entre a gente.

OIJ: Guilherme, você sempre foi engajado politicamente? Como surgiu o interesse e a oportunidade de ser embaixador do Portal?

Guilherme: Vim de uma cidade do interior de Minas Gerais, chamada Nova Serrana. Ela tem cerca de 100 mil habitantes. E por morar praticamente ao lado da Câmara Municipal da cidade, eu a considerava a minha segunda casa. Porque quando não tinha algo para fazer eu participava de audiências públicas e coisas assim, e a partir daí comecei a criar gosto pela política e questões legislativas. Participei de alguns projetos na própria cidade, como o Parlamento Jovem de Minas Gerais de 2014 à 2016, que levava jovens à Assembleia Legislativa e em dois dias simulavam a rotina de um deputado estadual, como aprovação de leis, etc. Em 2016, depois de participar de três edições desse projeto à nível estadual, fui selecionado para participar no nível federal, a 13ª edição do Parlamento Jovem Brasileiro, onde 78 jovens de todo o Brasil são escolhidos para vivenciarem durante uma semana a rotina de deputados na Câmara em Brasília. Eu fui com tudo pago pelo governo, foi uma experiência fenomenal, e acho que aí foi minha transição total para o rumo da política. Foi ali que descobri o que queria fazer, Relações Internacionais, e a causa que gostaria de me engajar, que era juventude. Nesse trajeto de participar de programas políticos para jovens, recebi uma Moção Congratulatória, que davam à pessoas que se destacavam no município, e fui o jovem mais novo à receber essa honraria, aos 15 anos de idade. Esse foi o início da minha trajetória. Tenho muita vontade de me tornar uma liderança pública, talvez pleitear um cargo de vereador ou algum cargo semelhante e até mesmo atuar nos bastidores dos cargos públicos.

OIJ: Que bacana. É raro ver alguém tão jovem se interessar por política e gostar. A gente ouve muito nas instituições e nas ruas que “política é chato”, “só tem ladrão”, “política não presta”. Quando na verdade a política é reflexo da sociedade e vice e versa. Hoje, você acredita que o Brasil possa vir a se consolidar como uma democracia?

Guilherme: Essa é a pergunta do século. Eu diria que sim, mas acredito que será um processo muito trabalhoso. Porque o povo brasileiro historicamente terceirizou muito da construção democrática através das Instituições, das Forças Armadas, das oligarquias, das aristocracias, então para que a democracia de fato seja consolidada terá que ser feita do povo para o povo sem qualquer tipo de verticalidade. Por isso acho que é um processo lento, que infelizmente teremos que aprender com tropeços e com todos os erros que a nossa democracia tão nova já carrega. Paramos para pensar na história e no processo de redemocratização e ainda assim temos um golpe e, carregando um pouco da opinião pessoal, novamente a ascensão de militares no poder. Mas por mais que tenhamos diversas evoluções no processo, como a consolidação das eleições, os instrumentos efetivos de voto, o surgimento de candidaturas independentes – que é algo novo no Brasil -, a grande quantidade de partidos são questões que podemos tomar como pontos interessantes de fortalecimento dessa democracia, só que ao mesmo tempo temos que pensar que ela deve ser construída pelo próprio povo. Não pode ser importada, não pode ser algo pronto, não existe democracia pronta. Acho que esse é o grande problema que precisamos vencer. O debate sobre a questão de uma democracia pronta ou um líder que vai carregar a construção democrática em si mesmo é um mito. Não podemos pensar desse jeito. Por isso acho interessante que assumamos a responsabilidade de sermos protagonistas desse processo de construção democrática como estamos vendo.

OIJ: E na sua opinião, o que falta paro o brasileiro se interessar por política ou pelo menos saber os seus direitos e deveres como cidadão?

Na minha opinião o que falta para que o brasileiro se interesse por política é que primeiro ele deve entender que dentro dele existe uma paixão política, daí pego aqueles conceitos mais antigos de Aristóteles, que falam sobre o “animal político” e da necessidade recorrente de interagir nesse nosso signo social, nesse caldo de vivência, porque é a partir daí que conseguimos construir uma sociedade e parâmetros de convivência comuns, para que ninguém seja prejudicado por outro. É legal fazermos esse recuo teórico para entendermos de onde vêm nossas motivações. Cada um de nós, em sua essência animal, possui um temperamento político muito forte, então o brasileiro por si só carrega em si uma paixão política, que deve ser aflorada. O que acho interessante pensarmos é que existem muitos mecanismos para aflorar essas paixões políticas, mas que não inserem no contexto político democrático, como o exemplo clássico das Fake News. Em que todos compartilhavam e se apoiavam nelas, e muitas pessoas foram de fato enganadas, isto é, elas estavam exercendo sua paixão política e ao mesmo tempo não estavam contribuindo para o estabelecimento da democracia. É necessário que entendam essa essência, que possuem essa paixão política, mas que ao mesmo tempo apontem essa paixão para a construção e consolidação da democracia plena. Não adianta termos acesso a várias informações se não sabemos filtrá-las e usá-las em prol da construção de um ambiente democrático.

OIJ: A democratização do saber da Constituição seria uma saída para isso?

Guilherme: Não sei se a democratização da Constituição seria a solução para a consolidação democrática. Em minha sincera opinião a democratização da Constituição é uma urgência e deve sim falar de nossos direitos e deveres, mas ao mesmo tempo acho que se cativássemos na população o espírito, a paixão política para que eles de maneira orgânica se engajassem com as políticas públicas, com as audiências e fiscalizações, penso que isso teria mais valia do que a obtenção do conhecimento sobre direitos e deveres. Acho que é nesse processo de busca pela política que absorvemos os direitos e deveres. É necessário que exista uma carta que nos guie enquanto sociedade, mas acho ainda mais necessário a compreensão de que política é parte, é conjunto. Então política é o que você fará enquanto uma parte mas que se segue no contexto de um conjunto. É preciso que democratizemos a Constituição porque ainda é um instrumento utilizado de diversas maneiras, inclusive para ser contra os direitos, por advogados e juízes. Podemos apontar vários casos de excepcionalidade que estão dentro da Constituição, como a GLO, Garantia da Lei da Ordem, o que significa afinal? E está dentro da Constituição.  Então é de fato necessário que esse documento que rege nossas relações seja repensado, mas ainda acredito que a questão é anterior, mais orgânica. Para que a partir desse engajamento da sociedade, da compreensão de que não existe exceção quando se diz respeito à política, que consigamos consolidar um conjunto de leis que não agreguem todos, mas que satisfaça as necessidades da sociedade e também a vontade geral.

OIJ: De acordo com você, a busca pelo conhecimento seria o melhor ou um dos caminhos para aflorar a política do brasileiro. Logo entramos no Politize. Há algum planejamento especifico para o portal ser mais conhecido?

Guilherme: O Politize nasceu como uma proposta de renovação política e de interpretação buscando uma consolidação democrática. Eu participei de um encontro com embaixadores Politize recentemente e lá trocamos várias ideias a respeito da sua pergunta. E analisamos cada ambiente, cada local que a política não chega ou é vista como tabu. Em 2018, por exemplo, o Politize esteve presente em diversas atividades em igrejas, escolas, em filas de espera para emprego e locais periféricos. E esse é o trabalho do Politize. Descomplicar o máximo a política e levar a conscientização política sem viés ideológico para, assim, tentar trazer essas pessoas a perspectiva de redemocratização e conscientização.

OIJ: Hoje se um jovem chegar pra você e disser que o sonho dele é estar no seu lugar que conselho você daria pra ele? Por onde ele começaria a jornada política?

Guilherme: Então, a gente vai procurando e se inserindo nesse mundo pela força de vontade mesmo. Eu acho que agora está muito mais fácil encontrar movimentos assim, de cunho político, existem muitas organizações de ação política, como o Mapa Educação, o próprio Politize, entre outros. Há vários movimentos em que você pode se engajar, sendo um ponto de partida perfeito. Se você tem alguma dificuldade, se você é do interior, eu acho que é aconselhável você começar em grêmios. Caso não tenha grêmio em sua escola, seja protagonista, faça um, crie um grêmio, junte uma galera. Engaje-se também em audiências públicas, câmaras municipais, participe de programas, como o Parlamento Jovem Brasileiro, o Parlamento Jovem Mercosul, o Jovem Senador e tantos outros que são programas de simulação em que você é colocado diante de uma responsabilidade tão grande, que é a de elaborar políticas que irão atingir o seu estado, o pais ou um bloco regional inteiro. Então, basicamente é ficar atento para essas possibilidades, começar no âmbito local mesmo, ver as possibilidades. É necessário procurar mesmo, você precisa se engajar para acontecer e depois entre em um movimento, que abrirá portas e te engajará mais ainda.

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