Periferia grita!

Periferia grita!

Por Jeaninne Silva

Kawan Lopes, jovem de 20 anos, nascido e criado em Santa Cruz e atualmente morador de Campo Grande, fundou ano passado, ao lado de Esther Dias, um coletivo jovem onde a arte e a cultura são tidos como as principais ferramentas de transformação da sociedade. O Cultura Zona Oeste visa dar oportunidade à jovens da periferia do Rio de Janeiro através de aulas de dança, teatro, música e de artes plásticas de forma gratuita, afim de fazer da arte uma forma de Resistência. 

Ao começar a frequentar o Centro do Rio frequentemente, devido ao pré-vestibular, Kawan e sua amiga perceberam a quantidade de atividades culturais que existiam naquela região e sentiram falta disso na sua própria comunidade. A partir daí surgiu a ideia de capacitar a juventude da Zona Oeste para praticar a arte, de uma maneia crítica, transmitindo as realidades que esses jovens vivem.

O jovem conta que seu interesse por causas políticas e sociais vem desde seu tempo de Ensino Médio, quando ele participou da ocupação do CIEP Mario Quintana, em 2016. Logo depois, ele se tornou o primeiro presidente do grêmio estudantil do colégio Vilma Atanásio.  Ainda em 2016, inspirado em um amigo deficiente auditivo, Kawan desenvolveu um projeto de inclusão para surdos, no qual o objetivo era incentivá-los a impactar a sociedade através do voluntariado, no Abrigo da Pedra de Guaratiba, onde pessoas com deficiência auditiva eram convidadas a fazer doações e participar de atividades lúdicas com crianças. Esse projeto o colocou entre os finalistas do Prêmio Prudential Espiríto Comunitário. Em 2017, Kawan foi novamente finalista do Prêmio Prudential, ao organizar uma grande arrecadação de água para os moradores do lixão Jardim Gramacho em Duque de Caxias. Ambos os projetos continuam existindo através do Voluntários do Vilma, organização com estudantes de seu antigo colégio.

“Eu amo a juventude, amo ser jovem. (...) A gente essa força de vontade, temos esse gás, só basta querermos, nos articularmos e organizarmos.”

O fundador do Cultura Zona Oeste acredita que a juventude tem o poder para mudar a realidade em que vivemos hoje, a partir do momento em que ela percebe o seu potencial pode fazer com que outros enxerguem o cenário atual, seja através da educação, de atividades lúdicas, da arte e/ou da cultura, precisamente o que o Cultura se propõe a fazer. Segundo o jovem, nós contribuímos para o Estado de qualquer forma, até mesmo comprando uma bala, nos cabe cobrar nossos governantes sobre aonde nossos recursos estão sendo empregados.

“O papel da juventude hoje é reivindicar uma melhor condição de vida. (...) A gente precisa ter acessibilidade ao esporte, à cultura, ao lazer. (...) Nosso papel é cobrar, criar alternativas, apresentá-las aos governantes.”

Além da cultura, a educação, a saúde e o transporte de qualidade são fundamentais para a transformação da nossa sociedade. Kawan acredita que os projetos sociais são importantíssimos, pois são uma forma de repensar as políticas públicas que não chegam às pessoas que necessitam, e por isso, para ele, é necessário que juventude não se articule apenas com projetos, mas também para atuar na Mobilização Popular, afim de que essas transformações realmente ocorram.

Kawan ressalta que os cursos ministrados pelo coletivo não fornecem certificado, mas é notável o impacto que eles trazem aos jovens que participam da iniciativa, o interesse demonstrado por eles é grande, e como organizador, Kawan acredita que seu trabalho contribui muito para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A educação de qualidade e a redução das desigualdades são os principais pilares do trabalho de Kawan, que atualmente participa da Comissão Especial de Juventude da ALERJ, onde tem levado demandas de educação e cultura. Sobre seus planos para o futuro ele diz:

“Pretendo ingressar na faculdade e fazer ciências políticas, Estudar mais um pouco sobre cultura e arte, e me tornar uma figura política combativa e a favor do direito da juventude e das minorias.” 



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